A Prefeitura de Aparecida, por meio da Secretaria de Cultura, recebeu a doação de uma impressora de grande valor histórico para a cidade. O equipamento foi doado pelo empresário e poeta José Benedito da Silva (Dico). Trata-se de uma impressora que pertenceu ao cônego Antonio Marques Henriques, redator e proprietário do jornal Luz d’Apparecida, fundado em 1895.
Essa máquina rotativa imprimiu o citado periódico e muitas outras publicações, como o jornal “A Liberdade”, importante informativo que acompanhou o processo de emancipação político-administrativa de Aparecida. O equipamento foi utilizado até a década de 1960 e, após esse período, ficou guardado na Tipografia São Benedito, de propriedade do empresário.
Cônego Antonio Marques Henriques
Nascido em 17 de dezembro de 1850, em Ribeira de Fráguas, Portugal, o cônego Henriques veio para o Brasil em 1888, época em que fundou o jornal “Estrela d’Apparecida”. Em 1895, a publicação passou a se chamar “Luz d’Apparecida”. No início do século XX, o periódico foi considerado o semanário católico de maior circulação no Brasil, com tiragem superior a seis mil exemplares.
O “Luz d’Apparecida” abordava temas variados, principalmente de formação moral, além de promover campanhas para melhorias no povoado. Em 1897, por exemplo, arrecadou recursos junto a romeiros e moradores para instalar iluminação elétrica no largo da igreja. Para viabilizar o projeto, o cônego Henriques construiu uma usina elétrica, contratando uma empresa do Rio de Janeiro. No entanto, desavenças com padres e com o bispo Dom Joaquim Arcoverde impediram a continuidade da iniciativa.
Também foi de sua autoria a proposta de criação do Morro do Calvário, com as cruzes da Via-Sacra.
Com a chegada dos padres redentoristas alemães, em 1894, o cônego passou a perder gradualmente suas funções na Igreja. Os constantes conflitos resultaram na suspensão de suas ordens, em 1900, sendo proibido de celebrar missas e ministrar sacramentos. Após o afastamento, continuou residindo no bairro da Capela e passou a se sustentar com os serviços prestados por sua gráfica, além da venda de jornais e anúncios.
Em 1927, foi perdoado por Dom Duarte Leopoldo e Silva, arcebispo de São Paulo, e pelos redentoristas, após pedir desculpas por ter causado “descontentamento e intrigas”. Participou ativamente do processo de emancipação de Aparecida, colaborando com a impressão do jornal “A Liberdade”.
Faleceu em 5 de fevereiro de 1929, aos 78 anos, menos de dois meses após a instalação do município independente, pelo qual tanto lutou. Um fato curioso é que a instalação do município de Aparecida ocorreu no dia de seu aniversário: 17 de dezembro de 1928.
A impressora, que esteve em atividade por mais de meio século, agora faz parte do acervo do Museu “Prof. José Luiz Pasin”.
Teresa Maria Barbosa Rezende
Jornalista e Historiadora
Secretária Municipal de Cultura